O Governo colombiano e a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) assinaram na sexta-feira um cessar-fogo bilateral de seis meses.
O acordo, fruto de vários meses de negociações, foi ratificado numa cerimónia em Havana.Cuba, com a presença do Presidente colombiano Gustavo Petro, do seu homólogo cubano Miguel Díaz-Canel e do comandante-em-chefe do ELN, também conhecido por Antonio García.
O cessar-fogo “bilateral, nacional e temporário”. entrará em vigor a 3 de Agosto por um período de 180 dias. e terá uma “vocação de continuidade após avaliação pelas partes”. Trata-se do acordo mais longo alguma vez celebrado entre as autoridades colombianas e o ELN desde a criação da guerrilha no início da década de 1960.
As negociações em curso tiveram início em Novembro último e não são as primeiras entre um governo colombiano e o ELN.
Em Janeiro de 2019, o então presidente Iván Duque suspendeu as conversações iniciadas em Havana pelo seu antecessor, Juan Manuel Santos, na sequência de um ataque da guerrilha a uma escola militar que deixou 23 mortos.
Como é o ELN
O ELN foi formado na mesma altura que as FARC, em 1964, e no mesmo contexto: um Estado cooptado por dois partidos políticos que excluíam qualquer proposta alternativa, e no meio da euforia gerada pela revolução cubana na região.
No entanto, o ELN não é uma guerrilha camponesa como as FARC. Os seus fundadores eram intelectuais urbanos, inspirados pela ideologia marxista, que foram fazer formação em Cuba e que, desde o início, receberam financiamento de Fidel Castro.
Além disso, ao contrário da estrutura vertical das FARC, o ELN funciona como uma federação: as suas frentes em todo o país têm autonomia e as decisões passam por complexos processos de conciliação.
O ELN nasceu no departamento de Santander, em San Vicente de Chucurí, a menos de 100 quilómetros do coração petrolífero e sindical do país, Barrancabermeja, e não muito longe da fronteira venezuelana, onde tem aumentado a sua presença na última década.
Desde o início, a militância de padres jesuítas nas fileiras do ELN deu à guerrilha uma certa conotação religiosa, uma linha de pensamento que combina ideias revolucionárias com as da teologia da libertação.
A sua interacção com a comunidade em algumas regiões do país é diária. Há mesmo aldeias onde têm apoio popular. Ao contrário de outras guerrilhas, o ELN tem mantido vivo o seu trabalho político com a população.
Segundo as autoridades, a sua fonte de financiamento tem sido, tal como para as outras guerrilhas, a cobrança de comissões aos traficantes de droga, bem como o rapto. Mas o grupo nega ser parte activa do tráfico de droga.
Membros do ELN.
O poder que mantém
O ELN tem tido altos e baixos ao longo dos seus mais de 60 anos de existência.
No início dos anos 70, quase foi aniquilado por uma ofensiva das forças de segurança, mas conseguiu sobreviver e fortalecer-se. O seu período mais activo foi na década de 1990, quando levou a cabo centenas de raptos e acções contra as infra-estruturas do país, especialmente a indústria petrolífera.
A Fundação Ideias para a Paz estima que, em 2017, cerca de 1 000 pessoas se juntaram à guerrilha e que em 2018, contava com mais de 4.000 membros.
O ELN aproveitou a ausência das FARC para se apoderar de alguns territórios. Ao mesmo tempo, teve de enfrentar vários grupos armados que lutam pelo controlo de regiões remotas do país.