“Prigozhin quer tornar-se o rei do Donbas”.

A organização paramilitar russa Grupo Wagnerque começou por ser um pequeno grupo de mercenários, mudou consideravelmente ao longo do tempo. Atualmente, é um exército com aviões, artilharia e o seu próprio centro de escritórios em São Petersburgo. O primeiro a descrever a partir do interior o organização dirigida pelo empresário russo Yevgeni Prigozhin é o antigo mercenário Marat Gabidullin, que vive atualmente em França. No dia 23 de fevereiro, a editora francesa Michel Lafon vai publicar um novo livro seu, intitulado “La révolte”. A DW falou com o autor.

DW: Sr. Gabidullin, quando publicou o seu primeiro livro sobre o Grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin ainda negava ter algo a ver com esta organização. Hoje, admite que não só está por detrás dela, como também de uma uma quinta de geradores de desinformação. É um dos principais actores da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Foi seu conselheiro durante algum tempo. Que tipo de pessoa é ele?

Marat Gabidullin: Eu era apenas um conselheiro, até certo ponto, sobre a situação tática. Nessa altura, estava na guerra da Síria, assinalava a situação tática no mapa e respondia a perguntas de esclarecimento na reunião com o meu chefe.

Que impressão lhe causou o seu chefe?

Prigozhin é um líder duro, que às vezes cruza a linha da brutalidade e grosseria. Ele pensa em grande e, com a sua empresa, não se limita a uma única atividade.

Que ordem prevalece no Grupo Wagner?

O grupo segue as regras estabelecidas pela direção, que é composta por ex-militares. Quando o poder é dado aos militares russos, eles descartam imediatamente todas as ideias de legalidade e constitucionalidade, como se isso fosse um disparate liberal, e começam a fazer as suas próprias leis.

A Síria foi uma coisa. Penso que ninguém duvida que era necessário combater o Estado Islâmico. Penso que, mesmo agora, ainda existe uma regra dentro da organização de que não se deve matar civis ou roubá-los. Mas na Ucrânia, a situação é diferente.

Os clichés ideológicos e propagandísticos só funcionam até ao momento em que uma pessoa se encontra numa zona de combate. É nessa altura que os métodos cruéis de punição têm lugar. Várias fontes já confirmaram que estão a ocorrer execuções extrajudiciais. Não vejo qualquer razão para não confiar nessas fontes.

Pode dizer-nos alguma coisa sobre os números dos serviços secretos britânicos, segundo os quais o Grupo Wagner conta atualmente com 50.000 homens?

É um número absolutamente irreal. Eles não cabem na estreita secção da frente onde estão a operar na Ucrânia. Afinal, 50.000 seriam um corpo de exército. Em todos os outros locais onde o grupo opera, no continente africano e na Síria, cabem dois ou três mil homens, no máximo.

O Grupo Wagner tem as suas próprias fontes de rendimento?

O Grupo Wagner está a ir bem enquanto o orçamento de Estado estiver a ir bem. Esta organização nunca foi privada. A expressão “empresa militar privada” é uma invenção da imaginação dos jornalistas. O grupo actua à custa do orçamento de Estado, à custa dos contribuintes.

Dmitry Utkin ainda é o comandante supremo do Grupo Wagner?

Sim. Utkin é o braço direito de Prigozhin, o seu sócio. Aparentemente, houve uma redistribuição dos encargos. Utkin controla as actividades do grupo em África e na Síria, e Prigozhin diretamente no Donbas. O seu verdadeiro objetivo no Donbas é conquistar todo o complexo industrial. Ele quer tornar-se o rei do Donbas, nem mais nem menos. Atualmente, dispõe de condições favoráveis para o fazer. Não tem concorrentes.

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