Problema sério no Velho Mundo! A crise de moradia na Europa continua a se agravar, atingindo níveis alarmantes em várias capitais, como Lisboa e Berlim. As cidades enfrentam um cenário onde turismo descontrolado, especulação imobiliária e políticas urbanas ineficientes transformaram a busca por uma casa ou apartamento em um verdadeiro pesadelo.
Com preços altíssimos, falta de regulação e uma crescente demanda, a habitação tornou-se inacessível para grande parte da população. Essa situação exige um olhar crítico sobre as causas e possíveis soluções para o problema que afeta milhões de europeus.
Nos últimos anos, Lisboa tornou-se um dos destinos mais procurados por turistas e investidores, o que gerou um impacto significativo no mercado imobiliário. Entre 2010 e 2024, os aluguéis subiram cerca de 40% e os preços de venda de imóveis quase dobraram, com um aumento de 97%. Esse cenário é resultado da “turistificação”, que consiste na conversão de moradias em alojamentos de curta duração, como os oferecidos no Airbnb e Booking.com, restringindo o acesso da população local a moradias acessíveis.
De acordo com Luí Mendes, geógrafo da Universidade de Lisboa, a migração de imóveis para o turismo tem criado uma grande extração de capital, beneficiando grandes grupos imobiliários, mas tornando a habitação inacessível para os grupos mais vulneráveis. Além disso, muitos edifícios devolutos no centro histórico foram adquiridos por investidores durante a crise financeira, reformados e vendidos a preços elevados, inacessíveis para a maioria dos lisboetas. Esses fatores têm agravado a crise de moradia, especialmente nas áreas centrais da cidade.
Enquanto Lisboa sofre com a turistificação, Berlim enfrenta desafios diferentes relacionados ao mercado de moradia. Apenas 16% dos berlinenses possuem suas próprias casas, um percentual muito baixo em comparação com outras capitais europeias. Entre 2010 e 2024, os aluguéis na Alemanha subiram em média 22%, enquanto os preços de compra de imóveis cresceram 70%.
Essa combinação de preços elevados e baixa disponibilidade coloca os moradores em uma situação difícil, especialmente os recém-chegados. Lorena Freitas, uma enfermeira brasileira que chegou à cidade em 2023, relata a dificuldade em conseguir um apartamento devido à preferência por inquilinos europeus e às exigências financeiras rigorosas. Além disso, o aumento dos preços também é impulsionado pela atuação de grandes empresas imobiliárias, como a Vonovia e a Deutsche Wohnen, que controlam uma grande parte dos imóveis.
Corporações as quais são frequentemente acusadas de promover a especulação imobiliária, contribuindo para a crise de moradia e gerando protestos da população local.
Especialistas concordam que resolver a crise de moradia na Europa requer uma combinação de regulação do mercado imobiliário e investimento em habitação pública e cooperativa. Em Lisboa, o controle do turismo e a reabilitação de edifícios devolutos para uso social são medidas que poderiam aliviar a pressão sobre o mercado. O Estado também precisaria assumir um papel mais ativo na construção de moradias acessíveis e na regulação dos preços de aluguel.
Em Berlim, algumas políticas, como o congelamento dos aluguéis, já foram implementadas, mas a falta de fiscalização e aplicação efetiva enfraquece essas medidas. “Desde 2015, há um mecanismo que determina que os proprietários não podem cobrar mais de 10% acima do valor médio dos aluguéis, mas isso não é respeitado na prática”, observa um especialista local. Para combater a especulação, é essencial que as leis sejam aplicadas de maneira consistente e que os inquilinos conheçam seus direitos.
A crise de moradia em cidades como Lisboa e Berlim é um reflexo das falhas estruturais de políticas urbanas e do impacto de práticas como a turistificação e a especulação imobiliária. A falta de regulação eficiente e de políticas habitacionais de longo prazo perpetua um cenário de desigualdade que precisa ser urgentemente abordado pelos governos locais e pela União Europeia.
A solução passa por um esforço conjunto entre o setor público, privado e a sociedade civil para garantir que a habitação continue sendo um direito fundamental, acessível a todos. Até lá, a luta por um teto decente continua sendo uma realidade distante para milhares de pessoas.
Veja mais sobre o tema na reportagem especial abaixo:
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